Como a sazonalidade afeta o desempenho físico no futebol?

Embora os estilos de jogo estejam em constante evolução, uma coisa permanece constante: o desempenho físico é fundamental. Mas quão estável é esse desempenho ao longo de uma temporada? Existem padrões previsíveis que se repetem ano após ano – e, em caso afirmativo, compreender esses padrões poderia mudar a forma como os clubes abordam o scouting, o recrutamento e a avaliação de jogadores?

Utilizamos os dados físicos da SkillCorner ao longo de várias temporadas para explorar a questão da sazonalidade no desempenho físico, com foco em dois indicadores principais*:

• Metros Por Minuto (MPM)¹ – a distância total percorrida por minuto de tempo útil de jogo
• Contagem de Alta Intensidade (HIC)² – uma combinação de corridas em alta velocidade (HSR)³ e sprints⁴

Ambos os indicadores foram ajustados para 60 minutos de tempo útil de jogo, garantindo comparações justas entre partidas e competições.

*Definições:

• ¹ Metros por Minuto (MPM): distância total percorrida dividida pelo número de minutos.
• ² Contagem de Alta Intensidade (HIC): soma de HSR³ e Sprints⁴.
• ³ Corrida em alta velocidade (HSR): atividade entre 20 e 25 km/h, sustentada por no mínimo 0,7 segundos.
• ⁴ Sprint: atividade superior a 25 km/h, sustentada por no mínimo 0,7 segundos.

Nosso objetivo aqui é destacar tendências que possam levantar questões interessantes para os clubes analisarem em seus próprios contextos. Veja o que encontramos.

Escopo de referência: competições e temporadas

• ¹ Impactado pela Covid
• ² Impactado pela Copa do Mundo da FIFA em dezembro de 2022

A curva em sino física nas "Big Five"

Ao analisar as cinco principais ligas europeias, nossa análise mostrou um padrão recorrente: os indicadores físicos, especialmente o MPM, formam consistentemente uma curva em sino ao longo da temporada. Os jogadores geralmente atingem o pico de desempenho no meio da temporada, com queda progressiva até o final.

METROS POR MINUTO - 'BIG FIVE'

Embora o HIC siga uma trajetória um pouco mais irregular, ele reflete esse padrão de forma geral – sugerindo que tanto a distância percorrida quanto a intensidade das ações estão sujeitas a ciclos semelhantes.

METROS POR MINUTO - 'BIG FIVE'

Isso levanta uma questão interessante: o que pode estar a causar essas flutuações?

Clima como possível fator

Para testar se condições ambientais como temperatura influenciam esses padrões, analisamos ligas que seguem um calendário de verão (março a novembro), ao invés do calendário de inverno (Japão, Coreia, Noruega, Suécia, EUA).

O que encontramos foi uma curva em sino invertida – os times dessas competições apresentaram seus menores desempenhos físicos no auge do verão. Isso sugere um efeito climático: meses mais frios podem favorecer o desempenho físico, enquanto o calor pode levar a uma queda natural.

METROS POR MINUTO - SUMMER LEAGUES

CONTAGEM DE ALTA INTENSIDADE - SUMMER LEAGUES

Isso levanta uma questão interessante: o que pode estar a causar essas flutuações? Se os clubes levam isso em consideração ao recrutar jogadores em diferentes climas ou hemisférios é outra questão que vale a pena explorar.

Momentos decisivos mantêm a performance física?

Outro ponto que investigamos foi a influência dos momentos decisivos. A hipótese: quando a pressão aumenta – como em fases finais ou disputas pelo título – o desempenho físico se mantém elevado?

Ligas como a Jupiler Pro League da Bélgica, que têm fases divididas no final da temporada, proporcionaram um bom exemplo. Nessas competições, MPM e HIC aumentam no início da temporada – mas, ao contrário de ligas convencionais, a queda é menos acentuada conforme os times disputam ponto a ponto até maio.

Isso reforça que o contexto importa. Pressão, formato da competição e importância do jogo podem desempenhar um papel relevante na manutenção do nível físico até o fim da temporada.

METROS POR MINUTO - SPLIT PHASE LEAGUES

CONTAGEM DE ALTA INTENSIDADE - SPLIT PHASE LEAGUES

O que isso pode significar para os clubes?

Embora esta pesquisa não recomende uma ação específica, ela levanta questões importantes para os clubes considerarem:

• Os relatórios de scouting são influenciados pelo momento da temporada em que o jogador é avaliado?

• Os clubes estão, sem querer, supervalorizando ou subvalorizando jogadores com base em desempenhos físicos afetados por condições sazonais ou climáticas?

• Existe uma oportunidade para os clubes quebrarem essa tendência – e manterem um desempenho físico elevado por mais tempo do que seus concorrentes?

Também abre reflexões interessantes para os departamentos de performance e ciência do esporte:

• Os protocolos de retorno ao jogo ou de gestão de carga devem ser ajustados de acordo com a época do ano?

• É possível “quebrar” a curva em sino e superar a concorrência ao longo da temporada?

O papel dos dados na formulação das perguntas certas

Na SkillCorner, acreditamos que dados contextuais e de alta qualidade não servem apenas para fornecer respostas – eles ajudam a tomar decisões mais inteligentes. Esta pesquisa sobre tendências físicas sazonais é apenas um exemplo de como nossos Dados Físicos podem apoiar reflexões mais profundas em múltiplos departamentos – do recrutamento e scouting ao planejamento de performance e desenvolvimento de jogadores.

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